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monsanto: ressignificação do espaço

Monsanto

"monsanto é um morro eriçado de penhascos:
as leivas, extensas, duma cor árida e uniforme,
vêm de longe morrer junto dos barrocais
é um morro bárbaro, medonho e orgulhosa."

fernando namora (1946)

Monsanto é marcada pelos granitos. Desde sua origem adquiriu a sensibilidade das pedras, pela forma como a população se apropriou deste espaço ao esculpir no solo a arquitetura para criar sua estrutura social. Assim se deu a construção de uma vila em cima deste Mons Sanctus, iniciada possivelmente no período paleolítico. A consolidação deste território se dá com a dominação do Império Romano, sucedida pelos Visigodos e então pelos povos Árabes. Esse último testemunhado pela sobrevivência de lendas e tradições mouras, como o adufe, instrumento musical tocado pelas mulheres locais. Posteriormente o local é apropriado à monarquia portuguesa, consolidando ainda mais sua formação. Assim se forma uma etnografia diversa, construída em diversos momentos históricos.

A percepção da história da aldeia foi fundamental para a construção de uma narrativa, tendo em vista o apego da população por suas origens. Hoje, Monsanto é marcada pela resistência ao tempo. Em um contexto de intensa proteção do patrimônio material arquitetônico, as pessoas e as tradições vêm sendo esquecidas. Por isso a narrativa se desenvolve ao redor da estrutura atual do viver em Monsanto, uma vila estagnada no tempo, em busca de reabilitação urbana.

Voltamos o olhar para três distintos sujeitos de estudo: o morador, o turista, e o morador que deixou a cidade. Para cada um surgiram problemáticas diferentes. Para os moradores, resta uma população envelhecida, saturada de um sentimento de nostalgia e abandono. Em conjunto com o sentimento de orgulho e pertencimento ao território, segue a necessidade por melhores infraestruturas e postos de trabalho. Para o turista, não há conexão significativa com o local, uma vez que a vila não está preparada para recebê-lo, nem no sentido afetivo nem no fornecimento de serviços. Não existem infraestruturas para esse público, assim como não há incentivo governamental de investimentos ao turismo na região. Percebe-se que o poder político se apropria do elemento cultural e da riqueza de cultura e tradições da vila, mas não existem incentivos fiscais efetivos para o desenvolvimento desse nicho. Para o ex-morador da vila, estão em pauta as questões que o fizeram deixar o local. A falta de trabalho, infraestrutura, serviços e educação. Paralelo a isso e pertinente a todos os públicos, está a dificuldade na mobilidade dentro da vila e entre as vilas ao redor dessa, dificultada pela topografia acentuada do local. A desertificação desse núcleo histórico surge como consequência destes problemas e dificulta as condições de vida no local.

Dessa maneira, desenvolve-se uma narrativa que busca resgatar as memórias do local através da arquitetura e do urbanismo. Como um convite para a população se apropriar do território com atividades, mobilidade e eventos de promoção da vida em conjunto. Assim, buscamos uma rede de reabilitação urbana, buscando equipamentos, infraestruturas, espaços verdes e de utilização coletiva. Uma intervenção no tecido urbano que abranja também o turismo cultural como fonte de renda e criação postos de trabalho para a população.
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